Um mês passado desde o "apagamento" do sinal analógico e da entrada em cena do sinal digital de televisão, a Televisão Digital Terrestre (TDT) ainda não chega a casa de todos os habitantes do concelho de Boticas, bem pelo contrário. À Câmara Municipal de Boticas chegam diariamente queixas dos Munícipes, desgostosos e inconformados por não poderem assistir aos programas que ainda há bem pouco tempo eram muitas vezes a sua única companhia. E o caso não é para menos. Um levantamento efetuado pela autarquia permite concluir que praticamente dois terços do concelho está excluído do sinal TDT, por se encontrar em zona de sombra total ou parcial, não lhe restando outra possibilidade, para continuar a ver televisão, senão recorrer aos serviços da televisão paga ou à instalação de equipamento para receção do sinal via satélite, o que, em ambos os casos, comporta custos muito mais elevados e quase sempre incomportáveis com os fracos recursos económicos da grande maioria dos agregados familiares do concelho.

Apesar da proximidade do emissor do Leiranco, que teoricamente deveria cobrir toda a área do concelho, o certo é que um número muito substancial de aldeias se vê privada do sinal TDT e outras recebem-no com muitos cortes e falhas que duram várias horas durante o dia. A freguesia de Covas do Barroso, por exemplo, a que pertencem as aldeias de Covas do Barroso, Muro e Romaínho, encontra-se na sua totalidade em zona sombra, logo excluída do sinal TDT. O mesmo acontece com uma parte significativa das freguesias de Alturas do Barroso (aldeias de Alturas, Atilhó e Vilarinho Seco), Cerdedo (na aldeia de Coimbró há total ausência de sinal), São Salvador de Viveiro (ausência de sinal em Bostofrio e numa grande parte das aldeias de Viveiro, Agrelos e Campos), Dornelas (com ausência de sinal ou intermitências do mesmo em Vila Grande, Vila Pequena, Gestosa, Espertina, Casal, Antigo e Lousas) e Fiães do Tâmega (com parte da freguesia localizada em zona de sombra).

Tal situação já levou o Presidente da Câmara, Fernando Campos, a fazer uma exposição junto da Associação Nacional de Municípios (ANMP), estando a autarquia também a preparar uma comunicação para submeter à ANACOM e à Portugal Telecom, dando conta da situação verificada no Concelho e exigindo que sejam tomadas as necessárias medidas para a sua resolução. Fernando Campos sublinha que esta "é uma situação inadmissível. Os Munícipes do nosso concelho e destas regiões do interior país têm sido vítimas de medidas altamente discriminatórias e esta é apenas mais uma. Têm vindo constantemente a retirar-nos serviços e qualidade de vida. Todos entenderão que é duma profunda injustiça obrigar as nossas populações a um investimento avultado para poderem continuar a ver televisão, ainda por cima numa região em que os recursos das famílias são cada vez mais reduzidos e as dificuldades aumentam. Esta é uma situação que tem que ser corrigida, sob pena de agravar ainda mais as desigualdades já de si enormes entre o litoral e o interior do país", remata o presidente da Câmara.